
“Uma água sem gás, por favor”
“Tá trocado?”
“Sim, mas se não estivesse?”
“Eu não ia vender!”
“Não entendi”
“Tô falando. Não dia vender”
“Mas você não pode se recusar a vender por motivo nenhum, muito menos porque o dinheiro não está trocado”
“Se não estivesse trocado eu não ia vender. E ponto”
“Já pensou se você dá o azar de falar a mesma besteira para o superintendente do Procon, por exemplo?”
“Não tô nem aí”
Sábado, 15 de novembro de 2008, às 19 horas
O diálogo acima é tão irreal que pensei que Janeth, caixa do Ad’Oro no Flamboyant, estivesse brincando. Mas não estava. Antes de encontrar uma amiga que jantaria comigo, passei lá apenas para comprar uma garrafa de água. Estupefato, acabei comprando a água, o que eu não deveria ter feito, porém, gosto tanto do restaurante que ainda tive a coragem de voltar lá mais tarde para jantar com a amiga que eu esperava.
É nestas horas que eu tenho a certeza de que estou em Goiânia, a capital mundial da péssima qualidade de atendimento. O pior é que o problema não é apenas na capital. Estabelecimentos de todos os setores de cidades turísticas goianas pecam pelo despreparo dos atendentes e, por vezes, até dos proprietários – o que não é o caso do Ad’Oro - que se colocam na linha de frente.
Que visão o comércio e todo o setor de serviços de Goiânia tem de um cliente? Alguém que está pedindo um favor? É o que parece. Lá fora, a imagem que se tem dos goianos é a de que são pessoas educadas, gentis, hospitaleiras. A média geral pode até ser, mas garçons e caixas – salvas algumas exceções; a minoria, infelizmente - deixam muito a desejar.
Qual é a origem do problema? Não sei. Sei que, em alguns casos, é o salário baixo e a péssima qualidade de vida no trabalho – o que também não sei se é o caso de Janeth. Mas é o cliente que, além de não ter nada a ver com isso ainda é o responsável pelo pagamento do salário do funcionário, tem de pagar o pato?
Eu não sou um consumidor muito exigente, contudo, não consigo ficar calado quando me sinto agredido e julgo que o serviço não está condizente com o pagamento. O que não admito é que falte o básico: respeito e educação. É por esta e outras que 10%, ao menos em Goiânia, deveria ser taxa a ser cobrada para pouquíssimos estabelecimentos, bem poucos.