terça-feira, 5 de agosto de 2008

Uso meu casaco de ursinho panda onde, quando e como quiser


Enquanto almoçava naquele restaurante sempre barulhento – estou envelhecendo – lembrei de uma história constrangedora e engraçada. Até os 11 anos, morei na fazenda com pai, mãe e irmã. Nessa idade, chegou a hora de fazer a quinta série e a professora da zona rural, dona Alzira Maria de Moura, dava aula somente até a quarta. Mudamos mãe, irmã e eu para Itapuranga. O pai ficou na fazenda e só o víamos às quartas, quando ele ia de bicicleta à cidade, e aos finais de semana, quando vovô nos buscava para passarmos o fim de semana em casa. No primeiro dia de aula, coloquei o meu melhor moletom. Era lindo. Meu pai comprou para o início das aulas. Era branco com ursinhos pretos. Bem meigo mesmo. Eu estava louco para usá-lo logo. E nada melhor do que estreá-lo no primeiro dia de escola urbana. Tudo bem até aí, não fosse fevereiro – calorzão. Quer saber mais? Meu turno era o vespertino. Nem aí, fui de blusa de frio para o colégio. Claro! Queria usar aquela peça bem como Adriana Calcanhoto quer comer Caetano até hoje. Aquela não foi a minha primeira vexação em público em ambiente educativo. Na fazenda, eu era sempre ridicularizado. Lembro que, debaixo do sol das 13 horas, na calçada, acompanhado de mãe e irmã, estava todo lindo com a blusa de manga longa. Risos daqui. Risos dali. Até que saquei que estavam me chacoteando porque eles juram que casaco não combina com o sol da uma da tarde de um fevereiro itapuranguense. Discretamente, fui ao banheiro. Acho que foi a primeira vez que tirei a roupa de frio sem a ajuda da minha mãe. Voltei, todo tímido – coisa de sagitário -, para o lado dela, já sem minha roupa nova. Soou o apito. Todos entraram. Minha mãe foi embora. Eu fui estudar. Ninguém tocou no assunto.