domingo, 24 de agosto de 2008

Escolhi ser feliz


Desconfio de quem ainda não sabe o que é ser feliz. Momentos tristes até eu tenho. Coisa de momento é conceito de tristeza e alegria. Felicidade e infelicidade fazem parte da essência. Ou se é feliz ou se é infeliz. O verbo estar deve ser aplicado somente à alegria e à tristeza. Contentamento versus angústia. Se o contrário acontecer, há um problema sério. Pior do que isso, insolúvel. Porque problemas sérios todos nós temos. É o financiamento a ser pago até o dia 15. Esquecimento incorre em multas, juros e outras taxas que desequilibram nosso orçamento. É aquele dente com sensibilidade exacerbada, que nem Sensodyne e enxagüante bucal dão jeito. É aquela seleção na qual fomos reprovados. É aquele flerte que não conseguimos evoluir. É aquela fonte que pediu para retornarmos às 15. Pior. Às 20h50. Ligação refeita e o cara não atende. É a segunda-feira que tem de começar às 6 horas. É a sexta-feira que nem sempre acaba na madrugada de sábado. É aquela impossibilidade de balizar. É aquela amiga que você jurava que era, de fato, amiga. É aquele gerente que não te deixa em paz. É aquele professor que insiste em dizer que não tem nada contra você, mas não vai com a sua cara. É o show no Jaó que começa com horas de atraso. É aquele show do Ney Matogrosso que você jura que não vai começar no horário, mas ele é velho, sistemático e não se atrasa. Como você, atormentado pelos constantes atrasos, chega meia hora depois, são 30 minutos a menos de show. É aquela timidez que acha que te impede de ser feliz. Mas, na verdade, só aumenta seu charme. É aquele assessorado que pede orientação no domingo às 18h10 via e-mail, quando não liga na quinta-feira às 23h30. É sua mãe que se descobriu hipertensa e diabética. É seu pai que sofreu um acidente e quebrou todas as costelas. São os quilômetros de distância em rodovia caótica que os separam. É aquele tênis que você tanto quer, mas que foge da sua previsão orçamentária. É aquela camisa linda na liquidação. Não tem seu número! É aquele cabelo branco aos 23 anos. É aquele ponteiro da balança que não indica menos de 80. É aquela janela do MSN que nunca sobe. É aquele scrap que nunca chega. É aquele torpedo do Ciao. Bella, mesmo que você não goste de pagode e sertanejo, que te atormenta à noite, enquanto você espera aquela mensagem. É o telefone que toca. Pena. É engano. É o ar condicionado que te deixa sem voz. É o calor que te vence. É o aparelho ortodôntico que faz aniversário de cinco anos sem previsão de abandono. É a Adriana Calcanhotto que canta Fico assim sem você e você não tem de quem lembrar. É a espera em Congonhas. É a solidão em Ipanema. É o desassossego em Salvador. É Porto Alegre que não chega. É o isolamento no quarto do hotel. É o auto-abraço. Melhor assim do que viver sem. É o pior castigo. É a oração apressada. É a Bibi Ferreira em apresentação única logo no dia do seu plantão. É o Lulu Santos só para convidados. E você não está na lista. É a falta de percepção. É a distância. É a saudade. É o cardápio. É saber que inverno em Goiânia nunca mais. É saber que agosto passou a ser verão sem chuva. É ouvir Skyline Pigeon sozinho. Ainda assim, me considero a pessoa mais feliz do mundo. Não preciso de motivos meteóricos para isso. Minha felicidade não é fruto da minha juventude, do meu trabalho, dos meus estudos, das minhas duas famílias lindas – uma biológica e uma adotiva -, das minhas viagens, roupas, bebedeiras, livros, menus, peso, altura, cor. É resultado do meu conceito de vida. Há quatro anos adotei a postura de ser feliz incondicionalmente. Sigo à risca.

5 comentários:

Andrea Regis disse...

Eu também, incondicionalmente feliz!
Beijo,
Andrea

Anônimo disse...

João, adorei o texto, o blog... Bjos! Luisa, em débito com vc

Wolney Fernandes disse...

João.
Minha teoria é de que vivemos em estado pleno de felicidade. O que existe são apenas alguns instantes de infelicidade. Adorei o texto, pois coloca essa tal de felicidade bem ali, entrelaçada ao cotidiano que vai movendo nossa vida.
Gostei tanto, que linkei o teu blog no meu!
Grande abraço!

Anônimo disse...

João parabéns mesmo... vc chegou, aos 23, a uma determinação q só cheguei aos 43..vislumbro um futuro intenso e feliz pra ti..é isso aí garoto, à propósito ter problemas é estar vivo ... e a outra opção é radicalmente irrevérsivel ...

Anônimo disse...

João parabéns mesmo... vc chegou, aos 23, a uma determinação q só cheguei aos 43..vislumbro um futuro intenso e feliz pra ti..é isso aí garoto, à propósito ter problemas é estar vivo ... e a outra opção é radicalmente irrevérsivel ...

Juka barroso